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I Congresso Norte de Arbitragem

Lembro, ainda devolvendo a xícara de café à mesa, do Presidente da República anunciando que o exército brasileiro forçaria a abertura das estradas pelo país. Àquela altura, a greve dos caminhoneiros havia parado o Brasil. Os aeroportos não tinham mais combustível, aviões ficaram nos hangares e as cidades não viam carros, gasolina ou itens básicos como legumes e verduras. Vi o centro de Manaus deserto: só calor e mormaço. Tínhamos que descobrir como mais de 30 palestrantes vindos de 8 cidades brasileiras conseguiriam chegar ao I Congresso Norte de Arbitragem organizado pelo NEA. E mais, precisávamos descobrir como fazer este evento, no centro histórico da metrópole amazônica, funcionar enquanto fornecedores já começavam a debandar. E tínhamos apenas dois dias.

O projeto do Congresso era o mais ambicioso do NEA até aquele momento. A ideia de levar os maiores advogados do Brasil para falar de arbitragem comercial no meio do amazonas, a milhares de quilômetros de qualquer grande centro de arbitragem, era, no mínimo, complicada. Conseguimos a parceria do Estado do Amazonas para realizá-lo no Palacete Provincial. O palácio construído ainda no Brasil-Império, replicando a arquitetura francesa de beaux arts, era o palco ideal para este ponto de inflexão na história da arbitragem brasileira. Ele havia hospedado a sede do governo, da assembleia legislativa, da polícia, o liceu municipal, a biblioteca pública e o clube da madrugada. Este berço da cidade de Manaus acalantaria mais um recém-nascido: a arbitragem no Norte.
Fizemos todos os ajustes, mudamos painéis, tínhamos pessoas monitorando os oito aeroportos, outras no palacete municipal, boa parte do staff se mudou para hotéis no centro para economizar gasolina. Alguns palestrantes infelizmente não conseguiram chegar. Cláudio Finkelstein foi impedido por pneus queimando no caminho para Guarulhos. Gabriela Wallau viu o aeroporto em Porto Alegre lhe fechar as portas. Sou incrivelmente grato à ajuda que instituições como a ICC YAF e o CIArb nos garantiu naquele momento tão delicado, cedendo palestrantes e ativamente reestruturando os painéis.

Felizmente, as palestras foram incríveis e tinham uma aura única. Tive a impressão de que o clima descontraído, a cidade exótica e estas circunstâncias deixaram-nos todos à vontade. Vi discussões reais, nada ensaiado, entre palestrantes, entre participantes, entre palestrantes e participantes. Mais do que um congresso, este momento foi um experimento sociológico catártico que deslocou todos – palestrantes e congressistas – de seus habitats naturais e os colocou numa mesma plataforma de discussão, longe das formalidades e preocupações de status que eventos semelhantes adquirem no cinzo granito do Hilton Vila Olímpia.
E se os desafios foram grandes – e sadisticamente complicados – a recompensa foi ainda maior. Vi o Presidente do CAM-CCBC, o Brazilian Counsel da ICC, os redatores da Lei de Arbitragem e dezenas de outros advogados dizendo que a experiência havia sido única. Que voltariam. Que Manaus seria um polo para arbitragem.

Do lado de cá, também recebi, entre críticas e elogios, o carinhoso feedback dos amazônidas que assistiram aquilo. Daqueles amazônidas que estiveram sentados, unidos, em um palácio da belle époque, com a sincera sensação de estarem participando de algo maior.

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